Se a Doença de Sjögren Pudesse Ser Vista – Poema de Clara Dawn

Se a Doença de Sjögren Pudesse Ser Vista – Poema de Clara Dawn
Imagem feito por IA. uma mulher com longos cabelos loiros ao vento, vestido transparente brancos e esvoaçante, está de costas sob uma nevoa ventosa, olhando para a imensidão do deserto repleto de cactos com espinhos.
Se a doença de Sjögren tivesse um rosto,
seria o de uma mulher feita de deserto,
com nuvens no pensamento
e trincas na pele do silêncio.
Se a língua árida falasse,
diria sede em cada fissura,
os labirintos de sal entre os frouxos dentes,
são nuances de um corpo que não se cura mais.
Olhos vermelhos e ardentes,
banhados apenas por uma indescritível sensação de areia,
os vazios que queimam ao vento,
são piscadas que imploram clemência.
Ouvidos e narinas ressecados,
ecos que chegam a lugar nenhum,
cheiros fugindo do mundo,
transitando silenciosamente por papilas feridas e sem paladar.
No pescoço, nós do tempo,
linfonodos que ninguém desata,
mensagens rudes d’uma infantaria
que se rebelou contra a própria existência.
Pulmões que arquejam num canal estreito,
coração em batida cansada,
um pâncreas que já não dança,
sobre suspiros e alfenins.
As juntas e a pele inteira, em brasas latente,
mapa rubro da dor que migra,
ossos curvados no lamento
de uma alma que não se esquiva da luta.
No ventre, um eco doído
se espalha como brasas, mas o deserto não incendeia.
Terra infértil de ternura,
onde a pelve não se achega.
E no topo, uma nuvem esquecida pelo vento.
Um nevoeiro estranho… estranho:
vela límbica de uma mente à deriva.
Mas mesmo assim sigo,
chuleando minhas fendas,
porque onde o corpo rasga,
a luta cirze.