Acordo, mas não desperto. O mundo lá fora parece movido por engrenagens enferrujadas, rangendo em um ritmo que não me alcança. Os olhos pesam, mas não de sono—é outra coisa. Algo entre letargia e serenidade. Como se meu corpo tivesse se dissipado no ar, e apenas a minha presença restasse num limbo.
Os sons do dia começam a se insinuar—os cantos dos pássaros, o lamento do gato, o cheiro do café e o tilintar de talheres na cozinha—mas tudo parece abafado, como se estivesse debaixo d’água. Sei que deveria me levantar, escrever, produzir. Sei que o tempo está correndo lá fora. Mas aqui dentro… não há pressa. Não é tristeza. Não é melancolia. É um entorpecimento silencioso, um vácuo entre o pensar e o agir.
Fecho os olhos. Não porque estou exausta, mas porque a escuridão interna é mais confortável do que a claridade lá fora. As palavras, que surgem com naturalmente diante de mim esperando para serem escritas, hoje se escondem na neblina. Tento buscá-las, mas é como atravessar um quarto escuro à procura de algo que apesar de saber onde está, não encontro. Então, desisto sem culpa alguma.
O tempo escorre como se fosse água na concha da mão, mas isso não me incomoda. Coisa alguma me incomoda.
Se alguém me visse agora, talvez dissesse que estou triste. Talvez me perguntasse se há errado. E embora eu soubesse que o estupor não é um estado normal para mim, permaneço presente apenas em minha própria ausência.
A névoa não dói. Ela não pesa. Pelo contrário— me conduz a um estranho conforto do qual, ao mesmo tempo que temo ficar, temo sair. E assim, por um tempo indeterminado, permaneço, flutuando na bruma de mim mesma.