Vivenciar é estar onde você está: física, mental e emocionalmente

Vivenciar é estar onde você está: física, mental e emocionalmente

Você já vivenciou um banho? Uma massa à carbonara com uma taça de vinho tinto encorpado? Já vivenciou a sua música favorita? Você vivencia os seus atos sexuais? Você costuma estar onde você está e fazer o que de fato deveria fazer, não apenas de modo físico, mas mental e emocionalmente? Vivenciar é aprendizado: estar onde se está é Carpe diem – é viver o momento! Carpe diem é uma frase em latim de um poema de Horácio, e é, popularmente conhecida como uma expressão para sugerir que aproveitemos o dia; que não nos esqueçamos de comer os morangos que surgem à beira dos abismos.

Mas o que isso realmente quer dizer? Somos conduzidos a experimentar a vida de modo superficial com o intuito apenas de saciar a vontade do que esperamos do momento: comemos esperando que a fome seja saciada; assistimos a um filme ou lemos um livro esperando as surpresas do final; tomamos um banho esperando as sensações de higiene e frescor; fazemos sexo esperando orgasmos… A saciedade é a busca e não vivência. Fazer algo apenas pelo resultado não é vivenciar. É ansiar. Vivenciar está muito distante de ansiar.

Porque vivenciar é sentir o exato instante com todos os sentidos, com todas as sensações que os sentidos têm para nos oferecer, e para que isso aconteça não podemos estar ansiosos. Você deve estar dizendo a si mesmo: ”ela diz isso porque não vive a agitação da minha vida, não tenho tempo nem pra descascar uma laranja“. – Mas você não precisa vivenciar os sentidos o tempo inteiro. A vida exige rotinas práticas e voláteis. Contudo, naquele seu dia de descanso, permita-se vivenciá-lo.

É maravilhoso vivenciar um banho: sentir a água sobre a cabeça ungindo todo o corpo, enquanto, com suas mãos, você pode se tocar com serenidade no sentido das águas e em preces louvar-se pelo privilégio daquele instante; pode pedir ao seu Poder Superior para que transforme aquelas águas em águas purificadoras, que elas levem para as profundezas todas as suas dores e sentimentos ruins. Acredite, a fé é uma necessidade latente, sem ela a vida é penosa demais.

É indescritível a vivência do sexo feito com a pessoa amada sem o afã da saciedade. Vivenciar o sexo é não ter pressa que ele chegue ao fim. Não ter pressa de chegar ao fim é praticar o melhor sexo do mundo. Imagine-se vivenciando o seu dia escolhido para as delícias do amor: tudo começa na madrugada no instante em que os corpos se atraem pelo desejo sexual, mas vocês não têm pressa, o dia só está começando. Então podem brincar, sorrir, doar-se e fugir do instante final… E isso poderá se estender ao longo do dia enquanto, juntos, lavam o carro, fazem o almoço, tomam banho, leem um livro, ouvem músicas tomando a bebida favorita: se olhem, se elogiem, demonstrem interesse pelo que o outro diz, preste atenção no olhar, no modo como toca o cabelo, no jeito como fecha os olhos para pensar… e comente tudo isso com bom humor e desejo, pois orgasmos estão guardados para mais tarde, como aquela garrafa de Bordeaux que só se divide com alguém muito especial .

Creia, depois de horas e horas de “tormento” pela espera do prazer, no outro dia, ambos sentirão saudades, não por causa dos segundos de explosão, e sim pelas várias oportunidades que tiveram de experimentar o êxtase, mas decidiram prolongar a deliciosa labuta por todo o dia para que ela fosse intensa como deve ser o sexo vivenciado. E assim vocês vão descobrir que isso é saber vivenciar. Isso é Carpe diem.

Mas, melhor do que vivenciar os momentos divididos com a pessoa amada, só mesmo a vivência íntima e prolongada da leitura de um bom livro, mas esse modo de fazer, vou guardar só pra mim: huuummm!

Este texto é de autoria da escritora, psicopedagoga e psicanalista Clara Dawn. É proibida
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