Passar medo na criança é anular a sua personalidade

Passar medo na criança é anular a sua personalidade

Na animação Monstros SA, a trama parte de uma premissa do imaginário infantil, os monstros que vivem nos armários e atacam durante a noite. Encarregada de salvar a cidade do caos, a empresa Monstros S.A. tira energia de uma fonte inusitada: o medo das crianças. Através de uma passagem entre os universos dos homens e dos monstros, eles invadem os quartos das crianças do mundo todo – e arrancam, com um grande susto seus gritos. Não posso evitar o spoiler, pois preciso realçar que no final das contas, a empresa descobre que arrancar sorrisos produz mais energia do que o medo.

O medo faz parte da natureza humana. É um estado emocional que ativa os sinais de alerta do corpo diante dos perigos. É uma importante etapa do amadurecimento afetivo de crianças pequenas. A tarefa dos pais é ajudá-los a lidar com os próprios temores, e não alimentar esses medos criando outros em forma de ameaças, como: ‘se você não ficar quieto a polícia vai te pagar’; se você não parar de chorar um bicho vai pegar’; se você não me obedecer vou te bater’; se você não comer tudo, vou enfiar essa comida goela abaixo’; se você não se comportar não vou levar você para passear’…

É comum vermos adultos usando o medo como método para que as crianças lhes obedeçam. Esses adultos acreditam que este é um método eficiente de persuasão. Realmente é eficiente, se o intuito é a anulação da personalidade e da autonomia da criança. Quando a criança obedece o adulto que usa o medo como ferramenta de persuasão, ela jamais aprenderá a obedece-lo por que o respeita, ele será sempre aquele que não tem capacidade de orientá-la a gerir as suas emoções, logo, alguém que não merece créditos.

Tentar impor obediência por intermédio do medo, é anular o critério da criança, é não lhe dar a oportunidade para que ela seja ela mesma, que sinta a necessidade de fazer as coisas, e, portanto, de responsável. Educar através do medo é anular a personalidade da criança e a tornar incapaz de tomar decisões por ela mesma.

É saudável o equilíbrio entre o medo natural e o incentivo à confiança

A falta de medo expõe a criança ao risco e o excesso dele faz com que ela se feche, numa espécie de prisão sentimental. O ideal é ajudar a criança a identificar o medo ‘amigo’ e o medo ‘inimigo’. O primeiro ela deve obedecer, e o segundo, desobedecer.

A educação não é simplesmente dizer ‘obedeça ao que te falo’. Os adultos devem ensinar os pequenos a tomarem decisões, que saibam o que é o melhor em cada momento e que entendam porque é assim, que saibam que se não agirem corretamente terão consequências negativas e se não agirem daquela forma verão as consequências, mas sem a necessidade do medo, simplesmente avisá-los do que existe. Alguns exemplos seriam: ‘se não jantar o que tem sobre a mesa você vai se deitar com fome’, ‘se não fizer os deveres amanhã você vai ter dificuldade de aprender a lição’, etc.

4 razões para não utilizar o medo como metodologia educacional 

1. Porque anula a personalidade das crianças e não as ensina como a vida é. Elas necessitam conhecer as consequências naturais para saber como agir.

2. Porque não diz a elas o que esperam delas, simplesmente esperam que obedeçam, convertendo-as em seres submissos sem critério próprio.

3. Porque as ameaças não dão confiança nem segurança na família, algo imprescindível para o desenvolvimento infantil.

4. Porque o medo anula a comunicação entre pais e filhos, afetando consideravelmente o vínculo afetivo.

Qual é o limite entre o medo normal e o exagerado? O que fazer quando o medo se torna patológico?

Ter medo é algo que nos acompanha desde a primeira infância. Ainda assim, muitos pais se preocupam em saber se esses medos infantis são normais e esperados para suas idades – ou se é hora de procurar um psicólogo que possa ajudá-lo a superar.

O primeiro fato que você precisa saber é que cada criança reage ao medo de uma maneira diferente. Crianças que sofrem de doenças crônicas, por exemplo, costumam sentir mais medos, já que costumam socializar menos e são mais sensíveis.

O segundo fato é que o medo comum é diferente do medo patológico. Crianças que sofrem de medo patológico manifestam reações como, por exemplo:

  • Medo invasivo – que a impede de comer, dormir ou realizar outras tarefas diárias;
  • Medo desproporcional ao risco real do que a assusta;
  • Medo que não consegue ser distraído ou tranquilizado;
  • Tremores, dificuldades respiratórias e tonturas;
  • Irritabilidade;
  • Comportamentos regressivos – como voltar a usar a chupeta quando está com medo;
  • Comportamentos obsessivos.

Alguns medos, no entanto, são comuns em crianças. Veja alguns exemplos:

  • Até 6 meses: medo de barulhos muito altos;
  • 7-11 meses: medo de pessoas estranhas e de altura;
  • 1 ano: medo de que os pais desapareçam;
  • 2 anos: medo de médico, trovões, objetos muito grandes e criaturas imaginárias;
  • 3-4 anos: medo de palhaços e outras pessoas fantasiadas, escuro, insetos, monstros e de ficar sozinho;
  • 5 anos: medos mais concretos, como de ladrões, de cachorro, de perder os pais ou de se machucar;
  • 7 anos: medo de fantasmas, tempestades, dormir sozinho ou de que algo ruim aconteça com seus pais.

Esses medos infantis são os mais comuns nos primeiros anos de vida. Por isso, não precisa se preocupar: ajudar seu filho a superá-los faz parte do crescimento.

Como ajudar seu filho a superar seus medos infantis?

Existem algumas maneiras de ajudar seu filho a superar os medos infantis mais comuns sem piorar o quadro:

  • Procure inserir estímulos na vida dele aos poucos, de maneira suave. Não o leve para ambientes muito barulhentos quando ainda for recém-nascido;
  • Esteja presente – ou certifique-se de que algum adulto próximo, como seu companheiro ou o cuidador da criança, esteja presente – quando a criança passar por novas experiências;
  • Tente sempre mostrar que o que ela teme não representa perigo, mas não a force a se aproximar;
  • Permita que a criança fale de seus medos e não a repreenda por se sentir assim;
  • Ensine-a a dizer o telefone de casa e seu nome inteiro, para que ela possa pedir ajuda quando precisar;
  • Explique que fantasmas, bruxas e outros seres imaginários são de mentirinha, como os desenhos e filmes na TV;
  • Sempre abra espaço para o diálogo e deixe a criança explicar por que não se sente segura.

Ter medo é algo comum entre crianças, adultos e todas as idades. O mais importante é mostrar para seu filho que ele está seguro e que, juntos, vocês podem enfrentar qualquer bicho-papão.