Depressão na infância: sintomas, diagnóstico e tratamento

Depressão na infância: sintomas, diagnóstico e tratamento

Kevin Breel, autor de “Confissões de um adolescente depressivo”, foi um dos primeiros jovens a confessar que tinha depressão, uma doença que até hoje causa certo tabu quando dita em voz alta. Em 2013, antes de’13 Razões’ (série que conta a história fala das razões que levaram a protagonista, uma adolescente, a cometer suicídio) se tornar febre nas redes sociais), Breel subiu no palco do Ted Talk e afirmou que: ‘é imperativo que falemos sobre a depressão na infância e adolescência’.

“Quem não está acostumado com a depressão tem uma impressão errada de que ela significa estar triste. Quando você termina com sua namorada, quando você não consegue o emprego que queria, isso é tristeza, é uma emoção real. Depressão de verdade é estar triste quando tudo na vida está bem”, conceitua Kevin durante a palestra no Youtube. Hoje, com 23 anos, Kevin é comediante, ativista da saúde mental e escritor.

Em seu livro, Kevin, que tentou se matar, fala sobre uma cultura que impede que crianças e adolescentes sejam diagnosticadas: “elas não apresentam os mesmos sintomas de depressão que os adultos”. Breel salienta ainda, a importância de conversar sobre a depressão, tamanha sua prevalência que é, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que lançou a campanha “Depressão: vamos conversar”, já são 300 milhões de pessoas afetadas pelo problema no mundo. No Brasil são 11 milhões diagnosticados com depressão, quase 6% da população.

A depressão na infância e na adolescência: 

Depressão é uma doença grave e se não for tratada adequadamente, interfere no dia a dia das pessoas e compromete a qualidade de vida. Nos adultos, é mais fácil de ser diagnosticada. Eles se queixam e, mesmo que não o façam, suas atitudes revelam que não se sentem bem e a família percebe que algo de errado está acontecendo.

Com as crianças, é diferente. Elas aceitam a depressão como fato natural, próprio de seu jeito de ser. Embora estejam sofrendo, não sabem que aqueles sintomas são resultado de uma doença e que podem ser aliviados. Calam-se, retraem-se e os pais, de modo geral, custam a dar conta de que o filho precisa de ajuda.

No passado, o diagnóstico de depressão era feito por exclusão. Hoje se sabe que sintomas como alterações do apetite e do sono, diminuição da atividade física, medo excessivo, duradouro e persistente, são próprios da depressão infantil.

Na criança, é bem fácil diferenciar a hiperatividade da depressão. Criança hiperativa não para quieta, mexe-se o tempo todo, principalmente os meninos. Entretanto, existe um subtipo de hiperatividade que se caracteriza pela desatenção. A criança não é hiperativa fisicamente, mas não consegue focar a atenção, por isso se retrai e vai abandonando as atividades. Muitos a consideram desligada, mas ninguém a considera uma criança triste.

Ao contrário, criança deprimida logo demonstra que não se interessa por nada e não há brincadeira que a faça sentir-se melhor. Fica parada o tempo todo e quer sempre alguém em que confie por perto.

Na depressão na infância e adolescência, uma das principais causas é a família. A família é o maior agente adoecedor, bem como também é o melhor agente organizador da cura. A criança é como uma esponja que absorve quase tudo em sua volta. Assim, conflitos verbais e/ou físicos entre os pais, traumas, lutos, separações, pais estressados, abandono dentro da própria casa, abuso sexual, agressão física, agressão psicológica verbalizada com palavras e insultos humilhantes, comparações entre um filho e outro, ou com outras crianças, pais helicópteros, falta de limite, falta de experienciar o tédio, falta de experienciar a frustração…, estas coisas, dentre outras, podem elencar riscos iminentes de desencadear a depressão na infância.

Sintomas da depressão na infância: 

Dos 7 aos 12 anos de idade há um aumento nas sinapses nervosas cerebrais e com isso, o pré-adolescente passa a formar a própria personalidade e é normal que fique mais rebelde. Mas quando isso causa dificuldades no aprendizado, ou são mudanças muito drásticas de comportamento que se prolonga por mais de 15 dias, é importante verificar com a ajuda de um profissional se não é uma disfunção de ordem psíquica.

Mudanças nos hábitos alimentares, no sono, um mal estar que a criança não consegue explicar e somatiza em outras partes do corpo, como dores de cabeça e de barriga; morder ou beliscar outras crianças; destruir os brinquedos de outras crianças; doar todos os seus brinquedos; despedir-se, como se fosse fazer uma viagem, com cartinhas ou em falsas ligações de telefone; verbalizar coisas do tipo: eu quero morrer ou eu vou matar, eu vou sumir, ninguém gosta de mim, ferir a si mesmo.
Segundo a doutora Sandra Scivolletto, coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Álcool e Drogas, um dos sintomas mais graves de depressão na infância é o sono: “começa a ser interrompido por pesadelos e o medo de ficar sozinha faz com que reclame e chore muito na hora de dormir. Não é o choro de quem quer continuar brincando. É um choro assustado, indicativo do medo que está sentindo o tempo todo”. Ele salienta ainda que “na infância, a ocorrência de depressão é praticamente igual nos dois sexos. A diferenciação começa na adolescência, fase em que as meninas são mais vulneráveis”.

Sintomas da depressão na adolescência: 

Na adolescência, a intensidade dos sentimentos e emoções aumenta devido as podas-neurais e  a baixa produção de hormônios indispensáveis à felicidade, alegria, prazer e ânimo. Os adolescentes são mais imediatistas e querem resolver rápido a situação que tanto os incomoda. Por isso, num impulso, em momentos de extrema angústia, podem cometer suicídio.

Entretanto é muito difícil perceber neles uma ideação suicida estruturada e planejada ao longo do tempo. Estas se manifestam no estágio grave de isolamento extremo, distúrbios do sono e automutilação. O uso exacerbado de álcool e drogas ilícitas entre os adolescentes geneticamente predispostos aos transtornos mentais e à dependência química, ativa uma bomba relógio no cérebro e este entra em colapso, levando assim o adolescente ao risco iminente de desencadear transtornos mentais graves e/ou suicídio.

Segundo a OMS, a maioria dos transtornos mentais entre adolescentes não é diagnosticada nem tratada. A depressão é uma das principais causas de adoecimento e deficiência entre os jovens. O suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 27 anos. Já é considerada uma epidemia. Um estudo, publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, indica que o suicídio é até três vezes maior entre jovens do sexo masculino.

Os sete pesquisadores da Unifesp utilizaram dados do SUS (Sistema Único de Saúde), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Coeficiente Gini (que mede desigualdade) para chegar às conclusões. Eles apontam a popularização da internet, as mudanças sociais no país e a falta de políticas públicas de combate ao suicídio como as principais razões para esse aumento.

De acordo com o estudo, a taxa de suicídio entre jovens entre 10 e 19 anos aumentou 24% nas seis maiores cidades brasileiras: Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto cresceu 13% no interior do país. O aumento contrasta com a evolução dos índices de suicídios no resto do mundo, que caíram 17% no mesmo período.

“Estamos na contramão”, avalia Elson Asevedo, um dos autores do estudo e psiquiatra da EPM (Escola Paulista de Medicina) da Unifesp. “Em 2013, a OMS (Organização Mundial de Saúde) definiu como imperativo global que seus signatários reduzissem essas taxas em até 10% até 2020”.

Diagnóstico:

Antes de fazer o diagnóstico da depressão ou outros transtornos mentais, médicos e psicólogos eliminam fatores orgânicos, como anemia, alteração no estômago ou outros fatores que possam causar os mesmos sintomas. Depois de descartados fatores biológicos, os profissionais da saúde mental farão o diagnóstico e dependendo da gravidade encaminharão para um psiquiatra e somente este poderá medicar.

Entre as várias medidas que governos podem tomar para lidar com esse cenário, a OMS recomenda: a inclusão de serviços de saúde mental na cobertura universal de saúde; a conscientização e capacitação de pais e professores; o oferecimento de atendimento psicossocial em escolas e espaços comunitários, especialmente em contextos de emergência, como situações de conflito e desastres naturais.
A Organização também aponta que cada vez mais evidências científicas indicam que o investimento na saúde mental dos adolescentes beneficia economias e sociedades como um todo, pois permite aos jovens tornarem-se adultos mais produtivos.

Fontes pesquisadas: Organização Mundial de Saúde; Abrinq; ECA; Ensaio sobre saúde mental na infância e adolescênciaEntrevista com Sandra Scivoletto