A magia praticável como receita para a longevidade do amor

A magia praticável como receita para a longevidade do amor
As pessoas estão sempre se queixando de que não encontram o amor (chamam-no pessoa certa, cara metade, tampa do balaio…), mas quando surge à oportunidade de vivenciá-lo, tratam-no com relapso. Fazem dele um tipo de amor camaleão. Aquele que precisa adaptar às sobras do tempo. Aquele que sobrevive de lamber as migalhas que lhe são oferecidas. Ora, como pode algo bom crescer disso? Vão espremendo o amor nas raras horas livres, entre um ‘depois e outro depois’.
 
Um amor de verdade não pode ser espremido dentro da realidade da vida. É a realidade da vida que tem se encaixar nas sobras de tempo do amor. A maioria de nós não sabe amar. Quer, mas quando encontra um amor, deixa-o sempre à mercê das sobras de tempo da realidade. Parece-me tão real o fato de que, o que fazemos por dinheiro é muito mais relevante do que o que fazemos por amor. Dedicamos nossas vidas integrais trabalhando, fazendo coisas de que não gostamos para ganhar um dinheiro que vamos gastar com diversas matérias das quais não precisamos realmente.
 
Tolo isso, né? Pois desta vida só levaremos o amor doado/recebido; cativo/cativado: sintonia, cumplicidade, afeto, doação… Sem magia – para mim – não há relacionamento. A quinze metros do arco-íris – disse Manoel de Barros – o sol é cheiroso. Se o desencanto daqueles que não sabem amar, invade o peito, vísceras e emoções, acontecer com a minha relação afetiva, eu deito a lona e sigo a estrada rumo ao arco-íris. Pois um relacionamento só vale a pena ser vivido se for intenso de afetividade, simples, divertido, recíproco… Do tipo pingue-pongue. Somos mágicos e todo o encanto mútuo que desejarmos, temos o poder de produzi-lo.
Acolá e aqui, sempre há arco-íris cheios de sóis cheirosos. E nem precisa forçar alguém a sê-lo. Só precisa sintonizar. A sua sintonia sempre comungará com a frequência de outrem. Você não precisa mudar quem você é para se adequar ao jeito do outro. Por favor, jamais faça isso. Do contrário adoecerá suas emoções e sua mente tentando em vão ser aquilo que não é. Ao contrário do que dizem, os opostos não se atraem, eles se destroem. As energias se atraem. E sempre haverá alguém cuja natureza vital é compatível com a sua. Siga, vibre sua mente, coração e vontade nesta frequência e o sol ficará bem cheiroso num repente.
 
A gente fica esperando para usufruir o amor depois da crise, depois da fase difícil, depois que terminar a maratona de projetos, depois da viagem a trabalho, depois da promoção, das eleições, da reforma da casa, da separação, da aposentadoria… Depois… E a vivência prazerosa do amor não chega nunca, porque a vivência do amor não está no futuro, mas só no agora. E o amor não pode esperar que tudo se resolva, porque isso jamais acontecerá. O amor só precisa acontecer aqui e agora. Basta que você se permita vivenciá-lo. Mas o amor nunca será sua cara metade, a tampa do seu balaio, a aquela pessoa certa… Porque o amor genuíno precisa de pessoas completas: dois inteiros – não um que dependa do outro para ser feliz.
 
Dois inteiros felizes e completos numa aliança de entrega mútua à vivência de uma história afetiva saudável. Em suma, o amor só exige serenidade para acontecer com plenitude e graça. Pratique a serenidade e o amor vai acontecer em fim. Serenidade é aquela coisa que abala as mais rígidas estruturas mentais e emocionais. A serenidade não é feita de egoísmo, nem de narcisismo, é o saber continuado do amor, é a afirmação de uma magia praticável, a atenção desperta aos morangos que surgem à beira dos abismos. A serenidade é o segredo do riso fácil, faz bem as saúdes física, mental e emocional. A serenidade embeleza, vitaliza e perfuma. É a verdadeira substância do amor. Quanto a mim? Estou serena como um Buda.
Crônica de Clara Dawn – Publicada originalmente no jornal Diário da Manhã – DMRevista – em 23 de setembro de 2017 – Goiânia – Goiás.